O Candidato Perfeito
Entranha-se uma qualquer expectativa ou ideologia de perfeição nas lentes do recrutador que se senta perante um candidato e diz: Bom dia (ou boa tarde, conforme), bem-vindo a este processo de recrutamento, é um prazer conhecê-lo. As interações desdobram-se no mesmo sentido esperançoso com que se desdobra um tabuleiro de jogo, em que se permite idealizar uma sequência de eventos em que tudo aquilo dará a vitória. E às vezes quase se suplica, às vezes quase se reza: “Por favor, que seja este o candidato perfeito”.
Existem candidatos perfeitos?
Esta ideia enraizada em dourado faz com que muitos recrutadores corram atrás de um sonho, quais Tântalos a correr atrás de água que foge, porque não contextualizam o que a literatura já apregoa há demasiado tempo: o mundo VICA – ou “VUCA”, para quem se quiser manter na língua inglesa.
Esta expressão foi sugerida pelo Department of Command, Leadership and Management da United States Army War College (1987), quando o mundo se deparava com a Guerra Fria. Os líderes das tropas, que antes se consideravam altamente preparados para enfrentar todo e qualquer evento, deparavam-se com uma realidade em constante mudança, portanto: Volátil, Incerta, Complexa e Ambígua (=VICA); pior – aperceberam-se de que a formação que tinham tido não era suficiente porque era preciso aperfeiçoarem-se num novo conjunto de competências, que essas é que seriam de valor.
Portanto, já aqui se entendia que o tiro certeiro estava em compreender o mundo que nos rodeia, e em sermos capazes de nos adaptarmos às realidades em constante mudança que se nos impõem (parece simples se não houvesse resistência à mudança, mas essa é outra bedtime story). E, imagine-se: o mesmo acontece – exatamente! – no mundo organizacional dos dias de hoje.
Nisto, parece que a solução para a questão do “candidato perfeito” está em simplificar e desmistificar as expectativas do que é suposto que este seja. Poderá ser mais frutífero recrutar um candidato que se apresente como sendo um bom fit para a organização, naquele momento (ainda que não seja “perfeito”), mas que tenha capacidade e interesse em desenvolver-se, formar-se e adaptar-se aos novos desafios que surjam.
Portanto, RHs, não percam sono por não encontrarem o candidato perfeito que a vossa chefia tanto teima em ter. Percam antes sono por tentarem arranjar maneiras de a convencer a investir em formação adequada para os seus trabalhadores se desenvolverem devidamente, que a formação é uma coisa tão precisa e tão escassa e que, quando acontece, as flores até nascem com cores mais fortes e os passarinhos cantam e tudo e tudo e tudo.
Escrito por Mariana Dias Gama.